Baiano de nascença, vim para o Distrito Federal ainda criança junto com a minha família. Cheguei em Sobradinho em 1960. Morava na antiga Vila Amaury, inundada pelo lago Paranoá.
Ao chegar aqui, com 9 anos, tinha comigo o sonho de ter um bom emprego para ajudar a minha família. Quando me envolvi com a arte, percebi que as pessoas admiravam o que eu criava. Um dos meus sonhos era levar a minha arte para todo mundo. Hoje, sou reconhecido internacionalmente, levei Sobradinho comigo para os quatro cantos do planeta que visitei. Nesse aniversário de 58 anos, tenho muito a agradecer a essa cidade.
Falar sobre Sobradinho é, inegavelmente, falar sobre a minha trajetória de vida. Cresci nessa cidade, desde minha educação, ao desenvolvimento do meu trabalho artístico. Já morei em outras cidades aqui do DF, mas Sobradinho é o meu lugar preferido. Aqui estão os meus amigos, aqui desenvolvi a minha arte, ou “melantucanarismo”, corrente artística genuinamente brasileira.
Lembrando do passado de nossa cidade, não há como esquecer os grandes momentos culturais que essa cidade já presenciou. As boates e os shows nas escolas, os espetáculos no teatro da quadra 12, as festas que ocorriam na Feira da Lua, na quadra 8, nos anos 90. Sobradinho sempre foi um dos principais polos culturais do DF, não submetida aos modelos do Plano Piloto.
Os anos se passaram, mas infelizmente em algum momento e em alguns aspectos Sobradinho parece ter parado no tempo. As festas diminuíram, a cidade se desenvolve devagar e temos visto a insegurança nas ruas crescer. Fomos aos poucos sendo conhecidos apenas como mais uma “cidade dormitório”.
O cenário cultural se retraiu. A galeria Vicente Van Gogh na quadra 8, por exemplo, é desconhecida de boa parte da população, e, em todo o DF, é a única com condições de exposições de artes visuais. O teatro deixou de ser um local com atividades teatrais e shows musicais, sendo hoje ocupado apenas por eventos escolares.
A nova gestão vem retomando a energia de outrora, com abertura para exposições de artes para que surjam novos grupos teatrais para ter a mesma dinâmica dos bons tempos da cidade. Sem falar no Polo de Cinema, que foi desativado pelo governo, obra que a comunidade cultural disputou para que fosse implantada em Sobradinho. O Governo esqueceu de olhar para nossa cidade do ponto de vista do desenvolvimento sustentável e do entretenimento.
Sobradinho é muito mais que isso. Somos uma cidade linda que precisa reformular as exigências de construções comerciais e residenciais para absorver o desenvolvimento cultural e comercial da cidade para não ficar conhecida no futuro como cidade dormitório. A nossa cidade é cheia de áreas verdes, que poderiam tornar-se belos jardins. Estamos rodeados de belezas naturais que atraem turistas e adeptos dos esportes radicais na redondeza.
Somos também o polo de consumo da região. Aqui na cidade circula toda a população dos condomínios localizados na Saída Norte, além das cidades de Planaltina e Fercal. Temos um forte comércio, que se incentivado, geraria ainda mais renda e emprego para nossa região. São 58 anos de história. Vários momentos que fizeram dessa cidade muito mais que um “dormitório”. Fomos referência na região norte do DF e temos total condições de ser o novo polo de desenvolvimento do Distrito Federal. Parabéns Sobradinho.
Toninho de Souza é artista plástico, poeta e escultor e já apresentou suas obras em mais de 21 países.