“Para espaços públicos vivos”, por Gabriela Tenório

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Várias cidades ao redor do mundo já compreenderam que espaços públicos vivos – onde se vê gente variada em diferentes horas do dia e da semana, desenvolvendo diversas atividades – são positivos para a sociedade. Dentre seus benefícios, eles ajudam a reforçar a identidade e favorecem a segurança em seus bairros, contribuem para saúde de seus frequentadores e possibilitam a criação de laços comunitários. Para obter espaços assim, uma cidade precisa contemplar certos aspectos, mas antes precisa saber que a vida urbana – a vida genuína, onde se distrai vendo as gentes, onde ocorrem trocas e encontros – acontece no nível do solo, à baixa velocidade. É preciso ser pedestre e ciclista para participar dessa vida pública e dela se beneficiar.

Quais seriam, então, esses aspectos que favorecem a presença de pessoas nos espaços públicos? Inicialmente, a proximidade. É importante manter tudo mais perto, a distâncias razoáveis de se percorrer a pé. Cidades onde tudo é longe tendem a ser dominadas por veículos privados. Grandes distâncias são obtidas por estacionamentos em superfície, áreas vazias no meio da cidade ou entre seus bairros, mas também por agrupamento de atividades num só lugar. Quando as atividades estão separadas e concentradas em lugares na cidade, somos obrigados a fazer mais viagens do que seria necessário se elas estivessem mais bem distribuídas.

Uma dessas atividades que deve estar bem distribuída é a de moradia. A simples imagem de uma área destinada apenas à habitação, como aquelas dos bairros resultantes de programas habitacionais, nos faz pensar que aqueles moradores terão que sair de seus bairros para resolver as questões mais simples de seu cotidiano. Eis a origem do movimento pendular casa-trabalho, casa-estudo, os engarrafamentos, a perda de tempo.

Pior: à parte de seus moradores, ninguém teria nada a fazer nesses bairros, que ficam muito esvaziados em grande parte da semana e findam por carecer de vigilância informal, tão benéfica para a segurança urbana.

Um outro aspecto é que a oferta de moradia tem que ser variada, com ênfase para a moradia multifamiliar. A existência de muitos bairros apenas de casas faz a cidade avançar mais no ambiente natural e amplia distâncias. Bairros que oferecem habitação variada, incluindo edifícios com apartamentos, permitem que mais pessoas morem num mesmo lugar, o que otimiza e barateia os serviços de infraestrutura, viabiliza equipamentos públicos e favorece um comércio forte e variado, acessível a pé.

Resumindo, a busca pela cidade que favoreça o pedestre, seja compacta, tenha usos bem distribuídos, possua certa densidade e ofereça variedade de formas de moradia está na ordem do dia dos estudos urbanos contemporâneos. Essas características ajudarão a cidade a ser mais diversa, viva, segura, interessante, barata e sustentável.

Assim, merece atenção a aprovação, pelo CONPLAN, do bairro Urbitá, em Sobradinho. O projeto oferece uma outra visão para o futuro do crescimento da 3ª maior metrópole do Brasil, e procura atender a esses aspectos aqui elencados. Brasília, em seu desenho original e na construção de seu território, tem dificuldades de contemplar a maioria deles. O mesmo não precisa ocorrer com o que virá daqui em diante.

Gabriela de Souza Tenorio é arquiteta, professora da FAU/UnB, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF e especialista em espaços públicos.

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